
Pepe esteve ontem na Maia a recordara maior conquista da Seleção, feita à base de uma lição portuguesa que França se esqueceu de estudar. Ser campeão da Europa era um desejo que Pepe partilhava com Cristiano Ronaldo, que tinha perdido a final de 2004. Aí, tal como França em 2016, festejar antes do tempo foi fatal.
Pepe, ex-defesa do FC Porto e da Seleção Nacional, foi o último convidado do ciclo de “Conversas com Campeões”, na Maia, a assinalar o 40.º aniversário do jornal O JOGO. Presença notada na caminhada da equipa das Quinas no Euro’2016 e decisivo por diversas vezes em inúmeros duelos, o antigo futebolista recordou a “incrível sensação” de conquistar o primeiro título para Portugal e as provas de fogo que o plantel, na altura comandado por Fernando Santos, superou, de empate em empate.
“Fomos todos campeões. Quando a convocatória saiu, o selecionador foi muito criticado, mas as críticas fizeram com que subíssemos cada vez mais na prova”, garantiu. Uma certa sobranceria francesa também serviu de estímulo. “Antes da final, fui com o míster ao Stade de France para ser entrevistado e, quando saímos, vimos dois autocarros já preparados para a festa francesa. Tirámos fotografias e mostrámos aos colegas. Utilizámos a raiva como combustível para, no dia seguinte, superarmos as horas mais difíceis e darmos essa alegria aos portugueses”, afirmou, perante uma sala cheia.
Além dos treinos, os jogadores aproveitavam almoços, jantares, passeios e até alguns dos momentos entre braçadas na piscina para discutirem a forma de jogar dos adversários. Hungria, Croácia, Polónia e País de Gales foram, entretanto, tombando na caminhada em campo. No duelo com croatas, recordou o antigo central, o plano era “bloquear” o avançado Luka Modric, mas, mesmo assim, Portugal só conseguiu a vitória aos 117 minutos. No jogo seguinte, contra os polacos, entrou a perder. “Eles criavam poucas situações de jogo, mas o que faziam era bem-feito, e isso dificultou a nossa parte. Tivemos oportunidade, empatámos com um golo do Renato [Sanches] e fomos penáltis. Valeu-nos o Rui Patrício”, lembrou.
Na final, frente à França, a equipa das Quinas entrou em campo confiante, mas os ventos não sopravam a favor. Além de perseguida por traças, ficou sem o capitão Cristiano Ronaldo, que, recordou Pepe, saiu lesionado aos 25 minutos. Aliás, o ex-central jogou em sofrimento, com uma lesão num adutor. As dores eram tantas que chegou a aproximar-se do banco, em desespero, para pedir uma injeço.
“Não joguei na meia-final, contra o País de Gales, por causa dessa lesão, e na final estava todo ligado. Não sou de tomar medicação, mas pedi qualquer coisa e o médico disse que ao intervalo me dava. Só queria que a primeira parte acabasse rápido. Mas, no balneário, o Fernando Santos disse que só entravam os jogadores. Então, voltei cheio de dores”, contou.
Depois do golo de Éder (109 minutos) e do sofrimento até ao apito final, a energia repôs-se, como que por milagre. “Quando acabou, dei graças a Deus, porque estava cheio de dores. Nesse ano, eu o Cristiano tínhamos ganho a Champions e o campeonato espanhol pelo Real Madrid. Também tínhamos de ganhar por Portugal. E o Euro’2004 perdido estava sempre no nosso pensamento. Havia que ganhar força no invisível e devolver à França o que a Grécia nos tinha feito em casa”. Uma lição portuguesa que, aparentemente, os franceses não estudaram.
Euro pela Seleção foi a conquista mais importante da carreira
Com 24 anos de carreira e mais de 29 títulos divididos pelo Real Madrid, FC Porto e Seleção Nacional, entre os quais uma Liga das Nações, Pepe aproveitou a conversa de ontem na Torre do Lidador para deixar claro que o campeonato Europeu foi o troféu mais importante e mais difícil de ganhar.
Afastado definitivamente dos relvados desde julho de 2024, curiosamente após um jogo com França para os quartos de final do Europeu’2024, que a equipa das Quinas perdeu nos penáltis, o ex-defesa revelou que está a projetar com um arquiteto amigo a construção de um museu para expor todos os seus títulos.