
Reforço recente do Moreirense, após rescindir com o Arouca, Ivo Rodrigues acompanha com curiosidade o trajeto de Iván Jaime no FC Porto, tanto na perspetiva do ex-colega de Famalicão como da ligação afetiva aos dragões, onde se formou. O futuro do espanhol tem estado em discussão, apontado a outras paragens, numa cobiça forte após o jogador ter sinalizado vontade de mudar de ares, após ter andado mais desalinhado ou riscado dentro das ideias de Vítor Bruno. Com a mudança no leme azul-e-branco, outras ideias se projetam e Jaime até foi a Belgrado.
O extremo português reflete de forma muita completa sobre a situação do antigo companheiro com quem esteve em campo em 59 jogos, numa aliança profícua para ambos: 15 golos e 7 assistências para Jaime, 8 golos e 17 assistências para Ivo Rodrigues. O rendimento do malaguenho, de 24 anos, em Famalicão, sempre foi sedutor e fazia intuir vida bem-sucedida numa dimensão acima.
“A expetativa era muito alta, porque tinha sido o melhor jovem do Campeonato, havia sido decisivo nos últimos seis meses, onde libertou várias qualidades, não só as técnicas, mas também a finalização com golos de belo efeito. Era um jovem com imagem e personalidade mas o futebol vai muito com fases e momentos de forma. Talvez não se tenha adaptado muito bem, apesar do bom arranque esta época”, analisa, deixando perguntas no ar. “O mais difícil para um jogador é a consistência e a exigência no FC Porto subiu muito em relação ao Famalicão. Exige-se ao jogador que esteja a um nível diferenciado em todos os jogos. Eventualmente, nesse aspeto pode sair a perder para outros. Os momentos de forma ditam alternâncias. Tenho pena que não esteja a correr tão bem como se imaginava. Acho que passa tudo pela consistência”, observa.
“O talento está com ele, aliás todo o plantel do Famalicão tinha gente de muita qualidade. Acho que lhe faltava demonstrar consistência nos jogos, faltavam-lhe números, apesar dos pormenores fantásticos. Ganhou isso nos últimos seis meses e esse foi o bilhete para chegar ao FC Porto por verba bem alta. Foi um salto natural” documenta Ivo Rodrigues, identificando “as receções orientadas e a capacidade de finalização” como pontos fortes, além da “personalidade de assumir o jogo”.
Essa descoberta do melhor Jaime, em que os estímulos de treino viajaram para o campo e o talento fez a diferença…foram obra de João Pedro Sousa, explica o extremo. “A nossa sintonia veio com a maré da equipa. O treinador encontrou a melhor forma, pois antes ele jogava por dentro e eu mais na linha. Ele mudou isso, praticamente inverteu mas deixando-nos próximos um do outro. Com um quadro muito móvel no meio-campo, deu-nos responsabilidades que não tínhamos e esse foi o segredo, pois conseguimos complementarmo-nos otimamente”, descreve. “Veio um conhecimento mais profundo, proximidade e intimidade no campo, que nos fazia encontrar espaços para qualquer um dos dois aproveitar, fruto das competências técnicas e da criatividade.”
“E… talvez, outro treinador o aproveite melhor”
Quando reinava a instabilidade no banco portista, Vítor Bruno estava por um fio, Ivo Rodrigues acautelava Iván Jaime a ter calma.
“Não sei qual é a sua vontade, não sei a ligação dele ao treinador e clube. Acho que tem tempo para jogar no FC Porto, não fez um mau contrato, é longo, e isso dá tempo ao jogador. Não deve ter pressa para sair, está num grande clube e tem qualidade para dar a volta à situação. Tem de querer, estar focado, aprender e ouvir, é preciso ter essa humildade de perceber onde estamos. Não sei ao certo o que se passou, mas não lhe falta tempo para ter sucesso no FC Porto. Acredito que esteja focado nisso, apesar do que se fala”, relata, tentando colocar-se também no lugar do clube, que com Anselmi, parece ter decidido abrir mais uma vida a Iván Jaime.
“Desconheço os planos, se pensaram num empréstimo ou numa venda com opção de recompra. É um jogador está na idade de explodir ou não explodir, pode ser rentabilizado saindo ou ficando. O Jaime ainda tem muito mercado, de certeza, se o vendessem seria uma postura mais de negócio para reparar estragos dos milhões investidos”, sublinha Ivo, entendendo a natureza do futebol, que pede respostas prontas sem dar licença ao amanhã.
“Ser melhor potenciado pode acontecer, mas apesar das críticas, das coisas não correrem bem, tem de haver paciência das duas partes. Quem sabe não virá um treinador que o aproveite melhor, mas também a culpa nunca é só do jogador ou do treinador, há muita coisa à volta. O mais importante é acalmar os jovens, retirar-lhes a pressão dos números, é melhor entender os momentos da equipa. Há a necessidade do clube responsabilizar os atletas, porque ganham bem e têm de mostrar-se, mas os contratos são feitos para serem cumpridos, principalmente quando chegas a um clube gigante. Tens de aceitar momentos menos bons, as críticas, há momentos para tudo e só podes pensar em melhorar individual e coletivamente”, destaca.