
Na noite de 11 de maio de 2013, aquela que assegurou a Kelvin lugar eterno no museu dos dragões, o futebol em Portugal era um jogo de onze contra onze em que no final ganhava o FC Porto. Desde a viragem do século até ao título que na semana seguinte seria ratificado em Paços de Ferreira na última jornada desse campeonato, os portistas haviam festejado nove ligas em 13 possíveis — a somar a Taça UEFA, Liga dos Campeões, Intercontinental, Liga Europa e uma série de troféus internos.
Com a terceira quota de mercado em número de adeptos, atrás de Benfica e Sporting, o FC Porto tocava céu azul e branco e ostentava estatuto de clube hegemónico em Portugal no desporto-rei. Por essa altura, após sofrer três grandes desilusões no espaço de pouco mais de uma semana, desfeitas que se traduziram em provas perdidas — Liga, Liga Europa e Taça de Portugal — com a meta à vista, o Benfica manteve a aposta em Jorge Jesus e num plantel fortíssimo.
O mercado desse verão de 2013 mostrou que o excesso de confiança pode ser fatal e mais a norte julgou-se que bastava vestir a camisola para continuar a vencer. Erro crasso, como se perceberia nas quatro temporadas que se seguiram, seca de conquistas do FC Porto que durou de 10 de agosto de 2013 (Supertaça) a 5 de maio de 2018 (empate a zero entre Sporting e Benfica selou Liga). Quase cinco anos a testemunhar o tetra — bis de Jorge Jesus e Rui Vitória, sinal de estabilidade no comando técnico — e outras vitórias em troféus internos de um Benfica que garantiu a hegemonia outrora na posse do maior rival dos tempos modernos.
A inexplicável opção de prescindir de Vítor Pereira — tricampeão, primeiro como adjunto de André Villas-Boas (AVB), depois a segurar ele a batuta — abriu caminho à chegada de Paulo Fonseca, Luís Castro, Julen Lopetegui, Rui Barros, José Peseiro e Nuno Espírito Santo. Balanço: um redondo zero, pior período dos 42 anos de presidência de Pinto da Costa (PC).
Encostado às cordas, na iminência de poder ver o Benfica celebrar impensável penta que era obra ímpar de engenharia de Fernando Santos, o malogrado presidente apostou em Sérgio Conceição (SC). A contratação do treinador que orientava então o Nantes foi a derradeira decisão genial de PC, talvez a única que vale mesmo a pena recordar pela positiva até à saída de cena nas eleições de 27 de abril de 2024 perdidas sem apelo nem agravo.
Quase sem ovos, SC fez omeletes, umas vezes sem especial tempero, outras gourmet, em contexto de incumprimento do fair play financeiro da UEFA que devia envergonhar os dirigentes em funções à data. Enquanto esteve ao leme, SC — nunca um técnico fez tanto nos dragões com tão pouco, não me canso de repetir — não devolveu a hegemonia perdida.
Porém, desde que sentenciou que chegava «para ensinar e não para aprender», em 2017/18, época que assinalou igualmente a entrada em vigor da videoarbitragem, o FC Porto é o clube com mais troféus (12), 11 com SC, um sob a liderança de Vítor Bruno.
No 1-4 na receção ao Benfica, ao défice de qualidade dos jogadores, agravado por momento em que não abunda a confiança, saltou à (minha) vista que AVB precisa do seu SC tal como PC necessitou. Não poderá ser o original, pelas razões que todos sabemos, mas começo a duvidar que Martín Anselmi seja a escolha certa. A seis jornadas do fim da Liga (escrevo antes do jogo frente ao Casa Pia) e ainda com o Mundial de Clubes por disputar, o argentino terá de provar, no mínimo, que veio para ensinar.